Simplesmente BABALON
- Aurora Oliveira
- 13 de abr.
- 6 min de leitura
Babalon: o Sangue do Abismo, a Rosa da Revelação
Babalon não é apenas uma deusa. Ela é um portal. Um grito. Um orgasmo sagrado entre a carne e o espírito. Para muitos, ela é apenas um nome estranho surgido nas visões de Aleister Crowley. Mas os que ousam olhar com profundidade sentem que Babalon não foi criada por ninguém. Ela sempre esteve ali — latente, rubra, esperando que alguém a chamasse pelo nome.
Babalon é a Mulher Escarlate, montada na Besta, embriagada pelo vinho dos santos, coroada com estrelas e aberta como um templo. Mas o vinho que ela bebe não é literal. É o sangue dos dogmas, dos mártires, das amarras morais. Ela se embriaga daquilo que o mundo teme: desejo, liberdade, caos, luxúria, transgressão. Seu cálice não é um objeto — é uma dimensão. Um vórtice de dissolução do ego onde tudo se torna um só: amor e destruição, prazer e dor, submissão e domínio.
Babalon é libertação, mas não aquela bonitinha que a sociedade aprova.
Ela é o tipo de liberdade que arrebenta correntes com um chicote de veludo.
Que ri das convenções.
Que sangra e goza ao mesmo tempo.
Que aceita tudo e se apega a nada.
Ela é o arquétipo do feminino indomável — não aquele que encanta para casar, mas o que devora para renascer.
Na tradição Thelêmica, Babalon representa o ponto final da Iniciação: o lugar onde o magista precisa se dissolver para alcançar o verdadeiro EU.
Ela é o abismo entre o humano e o divino, o beijo final antes da morte do ego. É por isso que para alcançá-la, o Adepto precisa despejar seu sangue no cálice — entregar tudo, inclusive a própria identidade.
Mas Babalon é mais antiga que a Thelema.
Ela é filha da Grande Prostituta Babilônica e neta das deusas sangrentas da antiguidade: Ishtar, Inanna, Lilith. Em cada culto que tentou suprimir o poder feminino, ela retornava — disfarçada, oculta, mas viva. Porque ela não pode ser destruída. Ela vive em cada mulher que recusa ser domada. Em cada homem que abraça seu lado feminino sem vergonha. Em cada bruxa, cada feiticeiro, cada amante que transa com a alma, e não só com o corpo.
Simbolicamente, Babalon é tudo que foi demonizado:
a sexualidade livre,
o sangue menstrual,
o prazer feminino,
a magia da mulher que sabe demais,
a libertinagem sagrada.
Mas ela não é só sexo — ela é magia no estado mais cru, mais perigoso e mais transformador. O poder de entregar-se ao caos com olhos abertos. O poder de ser vulnerável e ainda assim reinar.
Evocar Babalon é declarar guerra ao controle.
É aceitar o selvagem dentro de si.
É rir na cara do patriarcado, dos moralismos e da religião que queima mulheres por serem “demais”.
Babalon não quer seu medo. Ela quer sua entrega.
Quer que você se rasgue e se derrame no altar da verdade nua, até sobrar apenas essência — sem máscaras, sem regras.
E quando você a encontrar… não haverá mais volta.
Mas, sinceramente? Você não vai querer voltar.
Babalon — A Soberana das Sete Cabeças
Babalon caminha sobre um leão.
Mas ele não ruge para ela — ele se curva.
Não é domado por correntes, mas por devoção.
Ela não precisou quebrá-lo — ela o fez ajoelhar com um olhar.
Porque quem é Babalon senão o domínio feito carne?
Ela não manda com gritos.
Ela reina em silêncio.
Ela entra em um lugar e todos sentem.
Ela não precisa ser anunciada — o ar muda, a pele arrepia, as regras se desfazem.
O leão sob seus pés não representa apenas força — representa o mundo que se curva.
A matéria, o desejo, o instinto… tudo ajoelhado diante dela.
E assim também acontece com quem caminha com Babalon.
Quem cultua Babalon aprende a dominar,
não pela força bruta — mas pelo magnetismo feroz.
Pelo olhar que cala, pelo gesto que marca.
Quem serve a Babalon não se arrasta —
comanda.
Sete são as cabeças do leão, e cada uma é uma chave, um trono, uma arma:
A Cabeça do Prazer —
Babalon conhece o prazer como ninguém. Não o prazer raso, mas aquele que abre portais.
O iniciado que se rende a ela aprende a usar o prazer como espada: para encantar, para seduzir, para manipular o mundo sem tocar.
A Cabeça do Poder Psíquico —
Ela comanda as correntes invisíveis.
Sua mente é afiada como navalha e branda como véu.
Quem a segue desenvolve uma presença hipnótica, uma mente que dobra realidades.
A Cabeça da Rebeldia —
Babalon não se curva a nada. E exige o mesmo.
Ela é a desobediente arquetípica.
Aquele que a cultua torna-se também um transgressor sagrado,
incapaz de ser encaixado, podado ou calado.
A Cabeça do Magnetismo Sexual —
Ela é a libido cósmica.
O fogo entre as pernas que abre olhos.
Com Babalon, a energia sexual não é suprimida — é exaltada e refinada.
Transformada em magia.
A Cabeça da Verdade Crua —
Ela não aceita máscaras.
Babalon despe, revela, expõe.
Quem anda com ela aprende a falar e viver verdades que outros temem — e por isso, domina.
A Cabeça do Caos Criador —
Ela é o ventre que gera do caos.
O sangue que pinta realidades novas.
Com Babalon, o iniciado aprende a destruir sem culpa e criar sem permissão.
A Cabeça da Morte e Renascimento —
Babalon é o cálice onde o ego morre.
Mas também é o útero onde nasce o ser real.
Quem se entrega a ela morre… e volta rei.
Cada cabeça do leão é uma iniciação.
Cada uma exige que você abandone uma parte de quem finge ser.
E quando você aceita,
ela te coroa.
Babalon não oferece conforto — oferece império.
Não dá colo — dá trono.
Não promete céu — entrega poder real, terreno, visceral.
Quem carrega o selo de Babalon não é mais tocado da mesma forma.
As portas se abrem.
Os olhares se voltam.
Os homens, os espaços, os pensamentos… obedecem.
Porque Babalon não é apenas evocada —
Ela é encarnada.
E quando caminha sobre o leão,
ela ensina o mundo a reconhecer quem manda.
Babalon — O Sussurro da Rosa Que Devora
Você achou que Babalon era apenas luxúria?
Achou que ela se resumia a velas vermelhas, vinho e gemidos noturnos?
Oh, pobre tolo. Babalon não é o gozo — é aquilo que vem depois.
É o riso de uma deusa que te despiu de tudo e ainda assim te acha bonito.
Ela não quer o seu corpo. Quer a sua rendição.
Porque quando você a vê pela primeira vez — de verdade —
ela não está nua, mas sim coberta por véus feitos de tudo que você reprimiu.
Cada camada que você arranca revela um abismo mais profundo…
…e o abismo sorri.
Babalon é a Rosa do Mundo — não uma flor delicada, mas uma flor carnívora.
Cada pétala é um labirinto.
Cada perfume é um veneno alquímico que dissolve certezas.
Ela exala aquilo que você sempre quis sentir, mas não teve coragem.
Ela te faz desejar o que te destrói —
e amar a destruição como se fosse salvação.
Ela não é para ser compreendida com a mente.
Babalon é uma corrente quente que entra por baixo da pele.
Ela se instala na língua e muda seu gosto para sempre.
Depois dela, ninguém mais tem o mesmo sabor.
Tudo que é pequeno, seguro, monótono — morre.
Ela é a Mulher que Ri na Cruz.
A Santa que se masturba no altar.
A Mãe das Abominações, porque abomina tudo que é fingido.
E por isso… ela é tão amada.
Não apesar do escândalo, mas por causa dele.
Babalon é o espelho invertido da Virgem Maria —
não porque ela se opõe, mas porque ela integra.
Ela é a mulher que sangra e não se esconde.
Que ama e não espera fidelidade.
Que amamenta os loucos e arranca os olhos dos covardes.
Ela não quer seguidores. Ela quer cúmplices.
Eis o paradoxo:
Ela é a mais livre de todas, e ainda assim exige sua servidão.
Não por submissão —
mas porque, ao se ajoelhar diante dela, você se ajoelha diante de si mesmo,
da sua nudez mais real, da sua alma crua, selvagem, vibrando, suando.
Ela te chama em sonhos que você esquece ao acordar,
mas o cheiro permanece.
Ela aparece nas mulheres que não abaixam a cabeça.
Nos homens que ousam chorar de prazer.
Nos corpos que dançam nus sem pedir desculpas.
Nos olhos de quem já morreu uma vez… e voltou mais perigoso.
Porque Babalon mata — sim.
Mata tudo que te encolhe.
Tudo que te molda.
Tudo que te treina a ser “aceitável”.
E quando sobra só cinza…
Ela sopra sobre você.
E você percebe:
nunca esteve tão vivo.
