Goetia do Crowley - Thelemica
- Aurora Oliveira
- 26 de dez. de 2024
- 3 min de leitura
Por que eu amo a Goetia Thelêmica
Quando comecei minha jornada Goeteira, foi pela Goetia de Aleister Crowley que entrei nesse universo. Sua abordagem me atraiu imediatamente: era algo mais livre, mais simples, mais próximo, como se os espíritos fossem partes de mim mesma que eu estava finalmente conhecendo. A ideia de evocar não para dominar, mas para dialogar, me parecia profundamente certa, comecei, e confesso que de primeira ja pude ouvir a linda, grave e aveludada voz de Agares me respondendo, um som que ecoava na sala.
Com o tempo, decidi explorar a Goetia Salomônica. Afinal, é impossível ignorar sua tradição e riqueza histórica. Foi uma experiência completamente diferente. Tudo ali é estruturado, hierárquico, ha mais regras, regras claras sobre como se proteger e controlar os espíritos. E, sim, ela funciona — algumas vezes nao como voce espera.
Andras, por exemplo, é um espírito intenso com quem tenho trabalhado. Na Goetia Salomônica, as evocações com ele costumam ser desafiadoras, pois elle tem uma energia rebelde, quase explosiva, que não reage bem ao controle, ou a tentativa do mesmo.
Na primeira vez que a maioria dos magos que conheco tentaram evocá-lo nesse sistema, sentiram Andras tentando estrangula-los, e antes do seu ato de estrangulamento era como se ele estivesse testando cada palavra do magista, cada barreira erguida, pronto para romper qualquer coisa que não fosse sólida o suficiente.
Cresci indo a igreja catolica, ja quase fui coroinha do padre, mas sinceramente os padres nunca gostaram muito de mim, talvez por ser muito tagarela e falar tudo o que pensava desafiando algumas vezes as leis cristas, ainda que tivesse pouco entendimento, lembro de um padre dizer que eu era a semente do mal e que eu contaminaria outras criancas, no entanto cresci em colegio de freiras, e elas por sua vez me amavam, dito isso, talvez seja por isso que me sentia confortavel de evocar pela Goetia Salomonica, eu me sentia meio que "certa", mas algo faltava ali..
Depois de um tempo voltei à abordagem de Crowley, e tudo foi diferente, sempre foi, as evocacoes da Goetia de Crowley sao lindas e despertam um poder surreal no evocador, uma forca que vem de baixo pra cima, percorrendo todos os seus chakras, sensacao de poder seguido de alegria. Sem a necessidade de subjugá-los de forma tao radical, resolvi evocar Andras, que se apresentou com uma energia mais bruta, mas não ameaçadora. Ele me mostrou muitas coisas, sim, mas sem o peso da revolta, pelo contrario, hoje trabalhamos juntos. Era como se estivéssemos em um campo neutro, cada um respeitando o espaço do outro. Foi nesse diálogo mais aberto que percebi o quanto ele tinha a ensinar — sobre minha própria existencia, resistencia e a dele tambem.
Embora eu ainda use a Goetia Salomônica em algumas ocasiões, especialmente quando sinto a necessidade de uma estrutura mais rígida, confesso que meu coração permanece com a Thelêmica. Há algo na proximidade que ela permite, no respeito mútuo, que me faz voltar a ela sempre. É como trabalhar ao lado de um mentor, alguém que, mesmo com suas dificuldades, está ali para ajudar, não porque foi forçado, mas porque escolheu.
No final, a Goetia de Crowley me lembra que a magia é, antes de tudo, um diálogo. Um caminho onde você não só conhece os espíritos, mas também partes de si mesmo que talvez preferisse evitar. E é por isso que, mesmo experimentando outras abordagens, eu sempre me sinto em casa na Thelêmica, e sempre volto a ela.
Aurora
