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Demonização na Historia

  • Foto do escritor: Aurora Oliveira
    Aurora Oliveira
  • 24 de dez. de 2024
  • 3 min de leitura

Para os cristãos, a magia praticada por outros povos, como as tradições pagãs, foi historicamente vista como arte do demônio. No entanto, o que muitos não percebem é que práticas como a oração e o acendimento de velas, tão comuns entre os cristãos, também são formas de magia.


Enquanto os cristãos viam os deuses pagãos como demônios, essa visão ficou registrada na história, influenciando não apenas a religião, mas também a cultura e os costumes de muitas sociedades. Essa demonização dos deuses de outros povos teve um impacto profundo e duradouro na forma como a magia e os rituais religiosos eram compreendidos e praticados.


Algumas cerimônias de batismo na tradição cristã incluíam uma verdadeira renúncia aos deuses pagãos que o fiel havia seguido antes de sua conversão. Nesses momentos, os deuses da antiga crença eram descritos como entidades malignas, seres falsos que pertenciam ao inferno. Um exemplo disso pode ser encontrado nas abjurações batismais germânicas, onde se lê: “Eu renuncio às obras e às palavras do demônio, e a Thor e a Odin e a Saxnot, e a todos os seres maléficos em sua companhia.” A acusação de que os deuses pagãos eram demônios foi uma maneira eficaz de reforçar o poder da Igreja e consolidar a fé cristã como a única verdadeira, rejeitando outras formas de culto.


No entanto, essa relação entre o cristianismo e a magia não se limitava apenas à condenação das práticas dos outros. Nos séculos seguintes, particularmente durante o Renascimento, surgiram uma série de grimórios de magia divina. Estes grimórios, embora focados em práticas religiosas, descreviam feitiços e rituais que, em essência, eram muito semelhantes aos praticados por bruxas e outros magos. A principal diferença estava nos elementos utilizados: em vez de invocar deuses pagãos ou demônios, os magos cristãos usavam símbolos e palavras sagradas, como caracteres hebraicos, latim e imagens divinas permitidas pela Igreja, como a cruz de Amalfi ou de Malta. A ideia era utilizar o poder de Deus para alcançar os mesmos objetivos que antes eram atribuídos a outras entidades, sejam deuses, demônios ou espíritos. O paradoxo estava em que, mesmo dentro de um contexto cristão, a magia era vista como algo de natureza divina, desde que envolvesse as palavras e símbolos "corretos".


Nos anos 1500, muitos intelectuais passaram a publicar livros sobre magia divina, mas também houve uma grande proliferação de rituais populares, como os de magia folclórica. Estes rituais eram muitas vezes associados a santos e figuras religiosas, de modo que pudessem ser aceitos pela Igreja, permitindo que a prática mágica fosse mais facilmente assimilada no contexto cristão. A magia folclórica, assim como a magia divina, não estava longe da magia popular, sendo muitas vezes vista como uma forma de proteção espiritual ou cura, mas com a diferença de que suas raízes estavam nas crenças populares e na magia pré-cristã.


Um autor importante nesse cenário foi Heinrich Cornelius Agrippa, um mestre de filosofia e magia, cuja obra De Occulta Philosophia, escrita em 1510, teve um impacto significativo no desenvolvimento do ocultismo. Agrippa descreveu métodos de Magia Natural e Magia Celestial, destacando-os como superiores àquilo que ele chamava de Magia Negra, Nigromancia ou Necromancia. Em seus escritos, ele defendia o uso da magia para alcançar objetivos elevados, como provocar chuva, trovoadas, ou até mesmo para influenciar os sentimentos humanos, como amor e ódio, sempre com a ajuda de Deus. Esses métodos, segundo Agrippa, seriam mais poderosos e eficazes do que os praticados por bruxas e outros magos de tradição pagã, sendo mais alinhados com os princípios da moral cristã, ao mesmo tempo em que utilizavam a magia de maneira ritualística e espiritual.


No entanto, o uso da magia para fins espirituais ou protetivos não se limitava apenas aos intelectuais e estudiosos. Entre o povo comum, especialmente durante os tempos de guerra, surgiram práticas mais pragmáticas. Alguns soldados, por exemplo, engoliam papéis nos quais estavam escritos feitiços como “Diabo me ajude, a ti dou meu corpo e alma”, acreditando que isso os tornaria à prova de balas. Outras pessoas, em busca de proteção ou ajuda espiritual, realizavam oferendas a demônios em encruzilhadas, tentando garantir sua proteção ou favores. Esses rituais, longe de serem considerados como simples superstição, estavam profundamente enraizados nas crenças da época, refletindo o constante confronto entre a fé cristã e as práticas mágicas populares.

Portanto, a história da magia e da religião revela uma constante interação entre o sagrado e o profano, com a Igreja tentando dominar as práticas espirituais e religiosas de outros povos, ao mesmo tempo em que as próprias tradições mágicas cristãs se desenvolviam e se misturavam com o ocultismo e as crenças populares. A magia, seja ela considerada divina ou demoníaca, sempre foi uma forma de poder espiritual, capaz de influenciar os destinos e transformar a realidade de quem a praticava.


Por Angel.

 
 

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