A bebida dos Reis da Goetia - e de muitos espiritos
- Aurora Oliveira
- 23 de dez. de 2024
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Não é um néctar doce, nem um vinho terreno que preenche as taças deles. Sua bebida é a essência do poder, um destilado de almas, intenções e o próprio tecido das emoções humanas. Bebem do temor daqueles que os invocam, do desejo oculto que queima no coração de cada conjurador. Suas taças, invisíveis ao olhar mortal, são preenchidas com um licor mais etéreo do que qualquer substância física – a verdadeira substância do cosmos.
Filosoficamente, o que bebem é o ciclo eterno da vontade e da entrega. É o paradoxo do homem que busca dominar, mas se ajoelha. Cada oferenda colocada sobre seus altares – sejam palavras sussurradas ou sangue derramado – se transforma na gota primordial que eles absorvem, não apenas como alimento, mas como memória. Bebem a coragem do evocador, destilada de sua dúvida, e o gosto dessa coragem os eleva.
Magicamente, a bebida dos espíritos é um elixir feito de escolhas humanas. Eles se alimentam da coragem que desafia a ordem natural, do impulso que rompe a barreira entre o mundano e o profano. Bebem do fogo que reside no âmago de quem ousa chamá-los, das intenções carregadas de força e fragilidade. Para eles, o vinho mais sublime é o medo superado, o desejo concretizado e a queda do véu da ilusão.
Na verdade, o que bebem não é um líquido; é um pacto. É a transmutação da alma em energia. Aquele que os oferece se torna, por um breve instante, a própria bebida. E nesse instante, os reis sorvem a eternidade que há em cada ser humano, devolvendo-lhes, às vezes, um fragmento de seu próprio poder.
Assim, o que eles bebem é ao mesmo tempo, uma dádiva e uma reivindicação. É um ciclo fechado de consumo e criação, onde aquele que serve a taça também é servido por ela, em um banquete que transcende o tempo e a matéria.
Por Aurora.
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